“É possível negociar com os terroristas”

O diálogo com o grupo terrorista que actua no Norte do país não é uma missão impossível, defendem analistas, que dizem serem conhecidos os líderes dos insurgentes e que o Presidente Nyusi foi “desonesto” ao dizer que não são conhecidos.

Os investigadores de assuntos ligados ao terrorismo, Muhamad Yassine e João Feijó, estiveram, esta quarta-feira, no programa Noite Informativa no qual debateram o terrorismo em Cabo Delgado.

“É possível negociar com os terroristas? É possível. Existem exemplos que surtiram efeito? Existem.”

Assim começou a intervenção do especialista em relações internacionais e pesquisador Muhamad Yassine, que acredita haver mecanismos para se chegar a uma conversa entre os representantes do Estado e os terroristas.

Mais do que uma simples conversa, o especialista acredita no alcance de bons resultados, mencionando o sucesso obtido nalguns países.

“O primeiro grupo terrorista era da Irlanda do Norte e houve um acordo de paz com a Inglaterra. O outro grupo é o Eta. Houve um acordo de paz”, citou.

Para Muhamad Yassine, o maior problema não é se é possível ter o acordo ou não, mas sim em que negociar.

“Moçambique consegue negociar? Sim. Mas, quem é que deve negociar? O Estado é que vai negociar ou aqueles que consideramos grupos de interesses é que podem buscar o interesse do Estado, que é a questão da defesa da soberania, e, por outro lado, o interesse de todos aqueles que estão por trás dos grupos que visam desestabilizar o Estado?”, perguntou.

De acordo com Yassine, há politização do terrorimo em Moçambique. “O que está a acontecer em Moçambique é que se está a fazer política usando o terrorismo. É preciso dizer que, na maior parte das vezes, o terrorismo visa mudança de um certo status quo, influenciando os círculos de decisão para aquelas questões que são levadas até a uma negociação”, disse.

Foi neste pensamento que o comentador aventou a possibilidade de ser, por exemplo, um terrorismo de Estado, causado como forma de reivindicar a criação de melhores condições para o benefício do povo.

Explica o analista que a falta de melhores condições de vida, de acesso à justiça, de educação e de outros serviços básicos pode suscitar uma rebelião que se traduz em actos terroristas.

Quando se trata deste tipo de terrorismo, como explica Yassine, mais do que um simples diálogo, torna-se necessária a provisão dos serviços a que a população não tem acesso, respondendo, neste caso, às necessidades dos insurgentes.

No mesmo capítulo de criação de canais de diálogo com o grupo terrorista que actua em Cabo Delgado, João Feijó disse haver a necessidade de se clarificar o grau de dependência ou autonomia deste grupo em relação ao Estado Islâmico ou forças externas.

Feijó explica que o que está claro é que “o grosso das lideranças são moçambicanos, maioritariamente de Mocímboa da Praia, e são conhecidas pela população local”.

Feijó diz que os líderes do grupo terrorista em Cabo Delgado podem ser facilmente identificados. O especialista em assuntos ligados ao terrosrismo explica que, antes do conflito se intensificar, já se conheciam os líderes desse movimento, embora as autoridades não tivessem dado a devida atenção.

João Feijó trouxe o exemplo das duas freiras brasileiras sequestradas pelos terroristas cuja negociação foi feita pelo bispo de Pemba e o resgate, com a ajuda da PRM.

Diante deste facto, Feijó diz que o Presidente da República, Filipe Nyusi, foi infeliz quando disse que o Estado não sabia quem está a liderar o grupo terrorista.

“Quando o Presidente Nyusi faz um comunicado à nação a dizer que não sabemos quem eles são e não sabemos como comunicar com eles, ele não estava a ser honesto porque ele sabia quem eram. Não havia vontade política naquela época”, disse.

Fonte: O País

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