Precisado Cassamo, a voz que nos é o alento dos desertos da vida

Por Rudêncio Morais

Olho para Quelimane na caligrafia deitada no caderno de impala que me veste a infância repartida entre o bairro de Coalane (Elias) e Primeiro de Maio, vejo-a no pedalar da bicicleta em direcção a Icidua, Maquival, Chuabo Dembe e Mugogoda, sinto-a na poesia da sua gente, no sabor das galinhas cafriais à zambeziana, no mbuacu (manjericão) pilado no almofariz da nossa gente para com o piri piri sacana, dar sabor ao thodué que se nos desce tal e qual se perdem no horizonte, as canoas que fazem a travessia Patrice Lumumba Eracamba. É dócil este “Quelimane do Sal” temperado no nhambaro e hibondo, que nos embalam para os segredos de uma cidade que pulsa no calor da sua gente, vestindo no pé descalço a alma do samba para desmistificar a sabedoria do alambique.

Em 2020, quando pensamos em apresentar “A Outra Dor”, livro do Falso Poeta, na Cidade de Quelimane, apareceu-nos à primeira, o nome de Precisado Cassamo, como aquele que faria a ponte entre a poesia e a música teletransportando o leitor para o corpo da existência Quelimanense, a voz sagrada das raízes da nossa terra. Para tornar esse sonho possível, falou-se com Silvino Bernardo, amigo e irmão existencial, que se mexeu rapidamente e apresentou os requisitos para o ter na apresentação da “Outra Dor”, quis Deus que Precisado Cassamo lá estivesse, e juntos, percorremos o seu vasto repertório musical, vez por outra, atrelado ao assobio que sempre o caracterizou. Em surdina, o público o acompanhava, numa autêntica viagem no tempo e na alma de um povo abraçado à sua biblioteca cultural.

Partiu hoje, parte do que somos culturalmente, e uma das vozes sagradas da nossa identidade cultural, Precisado Cassamo, filho de Sansão Victorino, e os seus, que na verdade são nossos Mapangananos, Mulubwana Murubué (homem é remédio), Ogahona Saia Vururu eloboya kahimo.

Até sempre Precisado Cassamo! A sua voz ser-nos-a o alento que nos ajudará a atravessar os desertos da vida que vez por outra nos abraçam.

Paz a sua alma!

Rudêncio Morais

Fonte: O País

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