Putin tenta imitar czares e Estaline mas não terá "um império"

"Putin tem obviamente pretensões imperiais", observa, em entrevista à agência Lusa Simon Sebag Montefiore, o que levou o Presidente russo a estudar a história do século XVIII, em particular figuras Pedro, o Grande, e Catarina, a Grande, que "o inspiraram a sentir que pode fazer a mesma coisa".

O líder do Kremlin segue em parte o padrão dos Czares e noutra de Estaline - "que é o mais bem-sucedido 'czar' do Século XX", ou não fosse o historiador e escritor apelidá-lo de "czar vermelho" na biografia que lhe dedicou -, procurando estudá-los com vista a uma combinação dos dois.

"Putin realmente não lê muito, não é um intelectual como Estaline, mas estuda essas biografias de História, porque quer ser Pedro, o Grande, mas Pedro, o Grande só há um", comenta, completando que o Presidente russo "não é um grande personagem a nenhum nível".

No entanto, conseguiu concentrar o poder nele próprio, em resultado de "a Rússia ter o hábito de se refletir na visão de um só homem a mandar "e ele joga com isso, ameaçando com o caos se não estiver no poder".

O autor britânico dedicou grande parte da sua obra à Rússia, destacando-se uma biografia de Estaline que foi o livro de História de 2004 para os British Book Awards, ou "Os Romanov -- 1613-1918" e sua dinastia imperial, "Catarina, a Grande e Potemkin" e ainda os romances "A Trilogia de Moscovo".

A invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, vem na senda da ambição imperial de Vladimir Putin, apesar de a sua "operação militar especial" na Ucrânia ter aumentado o isolamento de Moscovo, que já vinha perdendo influência regional, com a NATO a expandir-se para junto das suas fronteiras.

"Os efeitos têm sido contraproducentes para a Rússia até agora. Mas, se não vencer a guerra, é possível sair dela com mais crédito do que pensávamos originalmente", afirma o historiador, justificando que o impasse que parece apoderar-se do conflito favorece Moscovo, abrindo espaço para negociações e permitindo ao Kremlin reivindicar algum tipo de vitória: "Mas não um império", ressalva.

Simon Sebag Montefiore esteve em Lisboa esta semana como convidado do ciclo de 'videocasts' "Isto não é assim tão simples", da Fundação Francisco Manuel do Santos, e num momento em que foi publicada pela Planeta a edição portuguesa da sua obra "O Mundo -- Uma História da Humanidade".

Ao longo de cerca de 1.300 páginas, em 23 atos, o autor nascido em Londres há 58 anos e traduzido em 48 línguas, cruza a história da humanidade, da pré-história à atualidade,"com a única coisa que os humanos têm em comum: a família".

É assim que se encontram os Césares, os Médicis, os Zulus, os Bonaparte, os Churchill, os Castro e os Kennedy, e também os portugueses Avis, Bragança e Salazar, famílias africanas e asiáticas menos previsíveis e outras em ainda em cima da atualidade, como os Xi, os Kim e os Trump, num último capítulo sugestivamente intitulado "o imperador, o czar e o comediante",no rescaldo da pandemia de covid-19 e nos alvores da guerra na Ucrânia.

"Queria uma história mundial que fosse abrangente enquanto tal, mas com o detalhe e a intimidade da biografia e a ideia foi fazê-lo através da família", explica à Lusa o historiador, que deste modo retratou a diversidade em todas as partes do mundo em diferentes períodos, numa abordagem transversal, na qual desfilam nomes poderosos e senhores da guerra, aventureiros e políticos célebres, descobridores e psicopatas, da política, da ciência e da medicina, mas também da literatura e da tecnologia.

Como traço comum, "é claro que as pessoas têm filhos e amam os seus filhos, lutam para alimentá-los e criá-los como gente decente", parecendo nisso todas iguais, mas separam-nas, no entanto, "épocas diferentes em mundos diferentes, o que faz com que as mentalidades não sejam as mesmas e é isso que é interessante na História".

"O Mundo -- Uma História da Humanidade" é ainda dividido, na sua sequência cronológica, pela evolução da população global, de 150 mil habitantes em 70.000 a.C. até aos oito mil milhões, "entre a idade da pedra e a idade dos 'drones'", tendo o número de habitantes aumentado oito vezes só no último século.

"A resposta deve-se à ciência e ao avanço médico que mudaram mais toda a história humana em cem anos do que os vários milhares de anos anteriores", sustenta o autor, concordando com uma perspetiva sarcástica de que "a saúde pode fazer mal ao planeta", à luz das alterações climáticas, que também são mencionadas no livro.

Além de especialista em História da Rússia, tendo escrito também a biografia de "Jerusalém" - e atendendo também às suas raízes sefarditas, que lhe deram acesso recente à nacionalidade portuguesa -, Simon Sebag Montefiore encontra-se numa posição invulgar para abordar os dois conflitos essenciais destes dias, mas alerta que, embora se encaixem em padrões, acontecimentos como a invasão da Ucrânia ou o conflito em curso entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas são "extraordinários e imprevisíveis" e a História "não nos pode alertar sobre eles".

O autor assume que é desconcertante que um historiador fale assim, mas explica que foi isso que o levou a escrever este livro, em tempo de pandemia e de guerra na Europa, na perspetiva das famílias, atendendo a que é a forma como desejam viver que vai moldar a humanidade.

"O que realmente importa é como as pessoas vivem agora, o que querem viver agora, o presente, isso vale mais do que muita história", assinala, recomendando, que "se alguém quer conhecer a história, então é melhor que estude a história certa".

Esta ideia conduz ao final da obra e à família de Donald Trump, com a proeza de se tratar de passado e presente e talvez de um futuro. Ao trazê-lo para o final do livro, não será um sinal do fim do mundo, mas, segundo o autor, merece preocupação, porque pode voltar a ser o Presidente dos Estados Unidos.

"A sua presidência seria uma enorme ameaça ao que consideramos como democracia americana atual, especialmente porque quer propositalmente mudar o serviço público e vingar-se dos seus inimigos", adverte o historiador, no exercício do que chama uma "autocracia americana" e na personificação da figura de outro 'czar', este nos Estados Unidos.

O seu populismo que se replicou noutras partes do mundo corre dentro das regras democráticas, que aceitam que alguém "tão 'outsider' chegue ao poder", e não através de um golpe de Estado ou de uma revolução militar, mas, assinala, traz igualmente a ameaça de "destruir a democracia se for longe demais".

Na verdade, não há nada de novo em Trump. De acordo com Simon Sebag Montefiore, lembra-lhe a figura de Nero na forma como confundiu política e entretimento -- e o magnata republicano "acaba por combinar televisão e algum talento para a política, sendo dotado de uma maneira monstruosa, o que torna especialmente perigoso".

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Fonte: Noticias Ao Minuto

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